O caso é investigado pela Polícia Civil de Pernambuco como ``racismo por homotransfobia´´ (Foto: Reprodução/Whatsapp)
Na manhã de quinta-feira (7), o coordenador financeiro Paulo
Rodrigo Lamenha, de 35 anos, se preparava para mais um dia de trabalho em Jaboatão
dos Guararapes, na região metropolitana de Recife, quando foi alvo de mensagens
homofóbicas de um motorista do aplicativo 99. Ao abrir o app e solicitar
uma corrida, Paulo recebeu a confirmação de um motorista identificado como
"Matheus". No entanto, o que se seguiu foi uma mensagem agressiva e
discriminatória: “Você não passa de um pedaço de lixo na terra. Parasita, vira
homem”.
Sem conseguir reagir de imediato, Paulo apenas registrou a
situação com uma captura de tela, enquanto o motorista cancelava a corrida.
Ainda atônito, o coordenador financeiro relata que não conseguiu entender de
imediato o que estava acontecendo. “Minha única reação foi ‘printar’, pois eram
6h10 da manhã e eu nem sabia direito o que estava acontecendo”, contou.
O relato de um episódio de homofobia inesperado
Paulo já havia utilizado o serviço do motorista em questão
alguns dias antes. Na primeira corrida, o motorista teria agido de forma rude,
mas sem qualquer ofensa direta. “Eu não lembrava que era o mesmo motorista e só
percebi quando recebi as mensagens ofensivas nesta segunda solicitação”,
explica.
Após o episódio, Paulo buscou suporte da 99, que
pediu desculpas pelo “desconforto” e garantiu que revisaria o perfil do
motorista para aplicar as penalidades adequadas. A empresa, em nota, reiterou
que “não tolera tal conduta” e que o emparelhamento entre Paulo e o motorista
será bloqueado em futuras solicitações. Além disso, ofereceu um cupom de
desconto como uma tentativa de reparar o dano sofrido pelo cliente.
Medidas legais e investigação do caso
Paulo decidiu levar o caso adiante e, com o apoio de
uma advogada, formalizou uma denúncia na Delegacia de Piedade. Segundo a
Polícia Civil de Pernambuco, o caso foi registrado como homotransfobia.
Em nota, a instituição afirmou que o processo de investigação está em andamento
e foi classificado como “racismo por homotransfobia”, seguindo a decisão do
Supremo Tribunal Federal (STF) que, em 2019, equiparou a homofobia e transfobia
ao crime de racismo.
A vítima destaca que a decisão de denunciar foi motivada não
apenas pela ofensa pessoal, mas por um senso de responsabilidade com a
comunidade LGBTQIA+. “Sou uma pessoa que teve o privilégio de fazer terapia,
que a mãe aceitou e que vive em uma rede de amigos de suporte e que fortalece,
acolhe e ampara. É pensando naqueles que não têm este privilégio que vou levar
esse caso para frente”, declarou.
A LGBTfobia e a legislação brasileira
O Brasil reconhece a homotransfobia como crime desde
2019, quando o STF decidiu equiparar esses atos ao crime de racismo, passíveis
de pena de 2 a 5 anos de reclusão. No entanto, apesar da legislação, muitos
estados ainda falham em documentar e monitorar a ocorrência desses crimes,
tornando difícil mensurar a real dimensão do problema no país.
Posicionamento oficial da empresa 99
Em nota, a 99 informou que repudia veementemente qualquer
forma de discriminação e que, assim que foi informada do ocorrido, tomou
providências imediatas. Segundo a empresa, o motorista foi bloqueado da
plataforma e a vítima foi contatada para receber o suporte necessário. A 99
afirma ainda que promove treinamentos de conscientização entre seus parceiros e
que disponibiliza um Guia da Comunidade 99, com informações e diretrizes
de comportamento para os motoristas cadastrados.
A importância do combate à homofobia e o apoio à
comunidade LGBTQIA+
Para Paulo, a denúncia é uma forma de resistir e inspirar
outras pessoas da comunidade LGBTQIA+ a não se calarem diante de
situações semelhantes. “O que a gente precisa como comunidade LGBT é se unir
para que cale o opressor”, declarou. O caso destaca a importância de políticas
efetivas de combate à LGBTfobia e do engajamento das empresas para promover um
ambiente seguro e inclusivo para todos os usuários e parceiros.