
(Foto: Reprodução/Redes sociais)
Desde o início de janeiro, uma casa na Rua Rocha Pombo, no
bairro da Estância, na Zona Oeste do Recife, tornou-se o ponto de encontro de
um grupo criminoso acusado de planejar o assalto ao Centro de Abastecimento e
Logística de Pernambuco (Ceasa). Liderado por um empresário e composto
por homens com histórico de crimes, o grupo foi monitorado pela Polícia
Civil, que conseguiu impedir a continuidade do ataque após uma ação
policial que resultou em uma morte e várias prisões.
A preparação: reuniões e rotinas suspeitas
A investigação começou com a presença de José Roberto
Arcino dos Santos, de 49 anos, um ex-presidiário conhecido por envolvimento
em roubos de cargas. Ele era visto chegando à casa suspeita em um Renault
Kwid, sempre escoltado por Euris Cosme dos Santos, que, segundo a
polícia, era responsável por mapear o Ceasa.
Outros membros foram identificados ao longo de quatro
semanas de monitoramento. Entre eles, Jailson Rodrigues de Melo, o
"Giju", condenado por homicídio e com mais de 30 anos de prisão no
histórico, além de Pedro Henrique Alves de Santana, flagrado carregando
sacolas suspeitas, possivelmente com armas de fogo.
O grupo seguia uma rotina precisa: após as reuniões,
utilizavam diferentes veículos para observar a movimentação no Ceasa, sempre
retornando ao mesmo ponto de partida. A liderança era atribuída a José Éder
de Lima Alves, empresário residente na Avenida Boa Viagem, descrito pela
polícia como "quem parecia ter o controle da situação".
O assalto: execução e confronto armado
Na segunda-feira, 10 de fevereiro, por volta das 15h, o
grupo colocou seu plano em prática. Cinco integrantes, mascarados, armados e em
um Renault Kwid, abordaram um funcionário no interior do Ceasa, que
transportava R$ 500 mil para depósito em um banco. Após roubar o
montante, os assaltantes tentaram fugir, mas foram surpreendidos pela polícia,
que já os monitorava.
A abordagem ocorreu na Rua Coronel Fernando Machado, onde,
segundo o relatório, houve troca de tiros. Durante o confronto, José Roberto
foi morto. Outros membros do grupo conseguiram fugir, alguns a pé e outros em
veículos, como um Volkswagen Polo usado na fuga pela contramão.
A perseguição e os desdobramentos
Em meio à fuga, os assaltantes roubaram o carro de um homem
que estava no Hospital da Mulher, na Estância. A vítima, que visitava
sua esposa e filha recém-nascida, relatou ter sido abordada por três homens
armados que fugiram com seu veículo.
Paralelamente, outra equipe policial invadiu a casa na Rua
Rocha Pombo, onde prendeu Éder de Lima Alves, Lucas Bento Barros,
e Luiz Carlos, que confessou ter cedido o imóvel para as reuniões. Pedro
Henrique foi preso no dia seguinte, enquanto Jailson Rodrigues e Jailson
Faustino da Silva, o "Mago Sinha", permanecem foragidos.
Decisão judicial e controvérsias
Apesar das prisões, o caso tomou outro rumo quando, na
quinta-feira (13), a Justiça decidiu relaxar as detenções. A juíza Blanche
Maymone Pontes Matos, do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE),
entendeu que faltavam provas suficientes para vincular os suspeitos diretamente
ao crime, além de considerar que as armas apreendidas não estavam no local do
flagrante.
A soltura gerou críticas, com debates sobre a eficácia da
operação e a complexidade em produzir provas conclusivas em casos de
organizações criminosas.
Impacto e reflexões sobre a segurança pública
O caso expõe a sofisticação de algumas redes criminosas, com
planejamento detalhado e uso de veículos clonados, além de revelar a
dificuldade das autoridades em transformar monitoramentos em provas
incontestáveis.
Para os moradores do Recife, o episódio reforça a sensação
de insegurança, especialmente em áreas movimentadas como o Ceasa. Já para as
autoridades, o desafio continua: garantir que ações preventivas e repressivas
sejam eficazes, sem deixar margem para questionamentos judiciais.
A sociedade agora aguarda os próximos passos das
investigações e a captura dos dois foragidos, enquanto questiona se o sistema
de justiça e segurança pública está preparado para lidar com grupos organizados
dessa magnitude.