
MPPE se manifestou de forma favorável ao afastamento da juíza Andréa Calado da Cruz (Foto: Priscilla Buhr/AMCS)
O Ministério Público de Pernambuco (MPPE)
manifestou-se favorável ao afastamento da juíza Andréa Calado da Cruz,
da 12ª Vara Criminal da Capital, do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE).
A decisão se dá no âmbito da Operação Integration, que investiga um
possível esquema de lavagem de dinheiro através de apostas esportivas e do
jogo do bicho.
Pedido de afastamento feito por investigado
A posição do MPPE reforça um pedido feito pelo empresário
Darwin Henrique da Silva Filho, dono da empresa de apostas Esportes da
Sorte e um dos principais alvos da operação. Em dezembro de 2024,
ele apresentou ao TJPE uma exceção de suspeição contra a magistrada,
alegando que ela teria atropelado ritos processuais e feito um pré-julgamento
do caso.
Se o pedido for aceito, a juíza será impedida de
continuar atuando na investigação.
Acusações contra a juíza
Na segunda-feira (24), o MPPE formalizou sua manifestação,
concordando com os argumentos do investigado e defendendo que a magistrada não
tem condições de continuar à frente do caso. De acordo com a promotoria,
"fatos e circunstâncias" indicam quebra da imparcialidade e violação
do sistema acusatório.
No documento, os promotores ainda afirmam que a juíza "falta
com a verdade", age como "magistrada investigadora" e
tem "paixão pela investigação". O trabalho do MPPE é liderado
pelo coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado
(Gaeco), Roberto Brayner.
"A magistrada se arvora implacável combatente da
criminalidade, proferindo inconcebíveis acusações em face da atuação do
Ministério Público, ao mesmo tempo em que manifesta juízo de prelibação
[análise de admissibilidade, antes do mérito] sobre a culpabilidade dos
investigados, violando o princípio da imparcialidade", diz o parecer.
Conflitos entre juíza e Ministério Público
O caso é marcado por conflitos entre a magistrada e a
promotoria, com embates registrados nos autos do processo.
A juíza cobrou, em diversas ocasiões, a formalização da
denúncia contra os investigados, enquanto o MPPE defende que ainda não
existem provas suficientes para acusação formal. Em um dos momentos mais
típicos do embate, a magistrada chegou a afirmar nos processos que o Ministério
Público "protege interesses".
O MPPE solicitou o arquivamento do inquérito contra
parte dos alvos da investigação, incluindo a empresa de apostas Vai de Bet,
ligada ao cantor Gusttavo Lima. Entretanto, a juíza discordou e
encaminhou o caso para a Procuradoria-Geral de Justiça (PGJ), que
concordou com os promotores e determinou o encerramento dessa parte da
investigação.
Polícia Civil pede reabertura do caso Vai de Bet
Apesar do arquivamento, a Polícia Civil de Pernambuco
solicitou, no final de janeiro, a reabertura da investigação contra a Vai de
Bet. Segundo os investigadores, um helicóptero que pertencia à Esportes
da Sorte foi adquirido pelos donos da Vai de Bet, o que poderia indicar ocultação
de bens e ligação entre as empresas.
A juíza Andréa Calado da Cruz deu andamento ao pedido
no dia 7 de fevereiro, alegando que a autoridade policial apresentou
indícios de movimentação financeira suspeita.
"A autoridade policial apresentou indícios que sugerem
uma tentativa clara de ocultação, com base em documentos que demonstram a falta
de registro dos pagamentos e a circulação de bens entre empresas de forma
suspeita", afirmou a magistrada.
Defesa questiona reabertura da investigação
Os advogados da Vai de Bet receberam o pedido de
reabertura com "estranheza", argumentando que os fatos já
haviam sido analisados e rejeitados pela investigação. A defesa alega que
não existe nenhuma novidade que justifique a retomada das apurações.
O que esperar dos próximos passos?
Agora, o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) irá
analisar o pedido de afastamento da juíza Andréa Calado da Cruz. Caso o
pedido seja aceito, ela será retirada do caso e um novo magistrado será
designado.
O desdobramento da Operação Integration promete novas
polêmicas e intensifica a batalha judicial entre a magistrada e o Ministério
Público, enquanto os investigados tentam se defender das graves acusações.
Conclusão
A investigação envolvendo empresas de apostas esportivas
e lavagem de dinheiro através do jogo do bicho expõe uma disputa
incomum entre o Poder Judiciário e o Ministério Público de Pernambuco. O
desfecho do caso pode gerar impactos significativos no setor de apostas no
Brasil e influenciar futuras investigações sobre crimes financeiros
envolvendo casas de apostas.
A decisão sobre o afastamento da juíza será um marco
para o desenrolar da Operação Integration, podendo determinar os rumos da
investigação e o destino dos envolvidos.