
Presídio de Igarassu, vistoriado pelo Ministério Público Federal (MPF) (Foto: Ascom/MPF)
O Ministério Público Federal (MPF) encaminhou à Polícia
Federal (PF) um relatório detalhado sobre a situação de 11 presídios de
Pernambuco, com base em vistorias realizadas neste ano pelo Conselho
Penitenciário do Estado (Copen/PE). O documento foi divulgado nesta terça-feira
(18) e deve reforçar as investigações da Operação La Catedral, que
em fevereiro teve como foco o Presídio de Igarassu, uma das unidades
apontadas como mais críticas no relatório.
Presídio de Igarassu: superlotação e irregularidades
graves
De acordo com o MPF, o Presídio de Igarassu apresenta
um quadro alarmante de superlotação, com 460% de ocupação na
época da vistoria. A unidade, que tem capacidade para 1.226 detentos,
abrigava 5.645 presos.
Além do excesso de presos, o relatório identificou a
presença de corrupção institucionalizada, tráfico de drogas, comércio
ilegal de itens básicos e até a mercantilização de espaços para dormir,
onde internos precisam pagar para ter acesso a um lugar para descansar. O MPF
classificou a situação da unidade como uma das mais preocupantes do sistema
prisional de Pernambuco.
Operação La Catedral e prisão de diretor
A investigação da PF resultou na prisão do ex-diretor
Charles Belarmino de Queiroz, que estava no cargo à época da inspeção. O
relatório do MPF enfatiza que a prisão do gestor evidenciou a necessidade
urgente de intervenções estruturais na unidade e de reformas no
sistema penitenciário estadual.
O documento também reforça a importância de manter
inspeções constantes para assegurar a segurança pública e a garantia
dos direitos humanos dentro das unidades prisionais.
Outros presídios também apresentaram problemas
Além do Presídio de Igarassu, o relatório analisou outras 10
unidades, entre elas:
- Colônia
Penal Feminina Bom Pastor
- Colônia
Penitenciária Feminina de Abreu e Lima
- Complexo
Penitenciário do Curado (presídios Frei Damião de Bozzano, Juiz
Antônio Luiz Lins de Barros e Marcelo Francisco de Araújo)
- Centro
de Saúde Penitenciário
- Penitenciária
Barreto Campelo
- Cotel
(Centro de Observação Criminológica e Triagem Prof. Everaldo Luna)
- Centro
Integrado de Ressocialização de Itaquitinga - Unidade I
- Penitenciária
Agroindustrial São João
O relatório aponta problemas generalizados na maioria
das unidades, com destaque para a má qualidade da alimentação e a
ocorrência de intervalos superiores a 12 horas entre as refeições, em
desacordo com as recomendações do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A
única exceção foi o Centro de Saúde Penitenciário, onde não foram
identificadas irregularidades graves.
Resposta da Seap: medidas de reestruturação em andamento
Em nota oficial, a Secretaria de Administração
Penitenciária e Ressocialização (Seap) informou que ações contra a
corrupção no Presídio de Igarassu já estavam em curso antes da
deflagração da Operação La Catedral. Entre as medidas adotadas, estão o afastamento
do ex-diretor Charles Belarmino e de mais quatro policiais penais,
além da transferência de um detento envolvido nas investigações internas
para um presídio federal.
A Seap afirmou ainda que o combate ao crime organizado no
sistema penitenciário é contínuo e inclui o isolamento de presos
considerados de alta periculosidade. Segundo a pasta, desde 2023, não foram
mais registrados inquéritos policiais envolvendo os principais alvos da
operação.
Combate à superlotação
Como resposta ao problema da superlotação, a Seap destacou a
retomada das obras do Presídio de Araçoiaba, que deverá ofertar 2.754
vagas masculinas. As obras, iniciadas há mais de 10 anos, têm previsão de
conclusão das unidades 1 e 3 no primeiro semestre de 2025, enquanto a
unidade 2 segue em processo de licitação.
Também foi ressaltada a abertura gradual do Presídio
Policial Penal Leonardo Lago, no Complexo do Curado, com 954
vagas, além da nomeação de 672 policiais penais nos últimos dois
anos.
Nota oficial da Seap
“As ações de segurança da SEAP no sistema prisional
incluíram também a transferência de presos, tidos como alvos prioritários, para
outros estabelecimentos penais a fim de isolá-los, evitando sua atuação dentro
e fora daquela unidade. (...) O combate à corrupção e ao crime organizado não
se restringe a operações pontuais, mas sim a um trabalho estratégico e contínuo
de reestruturação, monitoramento e reforço da segurança nas unidades prisionais
em todo o estado.”
O relatório do MPF reforça o alerta sobre o colapso do
sistema prisional pernambucano, e a expectativa é que as investigações da
PF avancem nas próximas semanas com base nas informações levantadas.